domingo, 28 de dezembro de 2008

Ensaio sobre a decepção


Parafraseando José Saramago, apenas no título, não conseguiria mais que isso, quero escrever hoje sobre a decepção.
Nesses tempos de fim de ano, quando as pessoas se lembram das boas palavras - que remetem a bons sentimentos- e saem por aí, dizendo e dizendo (quase nunca sentindo e desejando de verdade)... É aí, eis que surge aquele ser humano que você nunca fala, que nunca dirige a palavra e muito menos o olhar para você e diz, com aquele sorriso de fotografia (se é que me entendem) e diz: "Feliz Natal, Feliz Ano Novo! Tudo de bom para você e sua família... Paz, saúde, amor, esperança"... Ahhh... É sempre assim. E é a partir daí que eu começo a me decepcionar.
Sim! DECEPÇÃO! Palavra feia, né?! Proibida, pelo menos no sagrado mês de dezembro! Ora bolas, as pessoas vivem essa "indústria da esperança", como disse Drummond. Esperam ser mais felizes, mais ricas, mais saudáveis, mais mais no dia que vem vindo. No reveillon soltam-se fogos cheios de esperança de que quando todos acordarem, que estejam todos melhores, mais mais. Mas aí, as pessoas voltam para casa na manhã, bêbados, com o branco da roupa um tanto quanto escuro cheirando a champanhe, cerveja e vinhos. Mas quando voltam, não se importam com o ser humano que está ali, em seu passeio e dizem "malditos vagabundos, não trabalham e ficam enxendo o saco". E aí, depois que acordam, cheios de ressaca, continuam sendo quem sempre foram, não procuram mudar, fazer acontecer o que na meia noite passada tanto desejaram. É... Esperam que todas as palavras bonitas que ouviram e que falaram na noite anterior venham e batam na porta, assim como aquele senhor cheirando a pinga fez.
Não, não, não! Bando de babacas alienados! Não vão bater à sua porta! Você é que vai ter que correr atrás, se quiser. Parem de reclamar, comece assim! Por favor, agradeçam mais. Mais e mais. Assim, quem sabe, vocês possam ser mais e mais. Sei lá.
Continuaremos (porque eu também faço parte dessa cadeia de bobagens) a errar, a trair, a mentir, a pecar, a amar, a odiar, a cantar, a chorar... Continuaremos a nos decepcionar... Mas, continuaremos.
Ahh... Sei lá! Queria só desabafar, na verdade. É que, como faço parte da indústria da esperança, desejo para esse ano de 2009 que as pessoas sejam mais mais, que elas comecem a agir para ser assim. E aí, a palavra decepção vai, cada vez mais, fugir do meu vocabulário. Do nosso vocabulário.

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