Boca fechada, olhos perdidos...
Cá estou eu, sentada, atônita. Uma explosão implode em meu peito, mas meu rosto continua o mesmo: boca fechada, olhos perdidos.
Estou perdida em um tempo e um espaço que são meus, e nos quais vivo intensamente. Vivo intensamente o meu não-viver, ou talvez, apenas, o meu não-reconhecimento (ou meu estranhar) de uma vida agora minha.
Respiro fundo porque o ar já não me cabe mais e me foge quase que insistentemente.
Foge assim, como a memória de meu dia a dia me escapa a cada fechar de olhos.
E nesse momento, já me esqueci daqueles meus sorrisos quase que verdadeiros, esqueço de minha alegria quase que real naquele tempo que já não me é mais, pois ficou preso em um infinito - e é nada além de lembranças acompanhadas de suspiros e nem em pó pode se tornar. Então, meus dias daquele tempo ficam no infinito de mim mesma e eu não sei mais quem sou e se eu já existi e fui...
Mas, se não me sei e se não sei se fui, acontecimentos não me chateiam, nem me alegram, porque já são apenas lembranças acompanhadas de suspiros - e nem pó são.
Cá estou eu, sentada, atônita. Uma explosão implode em meu peito brando... Boca fechada, olhos perdidos.
3 comentários:
"nem em pó pode se tornar"
ótima frase!
Um belo jeito de descrever um domingo!
Mto bom!
bjão
pagando o comentário que eu te devia(o que não te nada que ver com obrigações).
Moça acho que entendo o que você expressou tão bem na sua crônica-poesia.
Os versos meus são pobres, mas também escrevi uma vez sobre isso aqui em Bauru.segue:
Onde?
que frio meu lar tão longe;
a ausência das coisas de rotina que já nem me acenavam mais ;
o clichê inquietante do silêncio berrando "distância!" paulatinamente;
a falta daquilo que me irritava até tornar-se impossível de se conviver;
isso tudo faz muito frio.
é sempre inverno longe de casa.
a liberdade da estrada faz outono de vez em quando, mas nem a terra gira pra trás , nem a temperatura se mantem por muito tempo se maior que a fornecida pelo ambiente.
é ainda mais inverno quando chove:
há mais reticências no verter do dia,
redemoinhos pontuam as velhas exclamações,
a incerteza torce os trapos do orgulho e, clamando atenção com medo de ser ouvido, choro qual um violino de cordas abafadas que insisto em tocar virtuosamente.
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