sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Por detrás das urnas

Andando perto da faculdade, pergunto às mulheres que vendem cartões de ônibus. “E a senhora, já sabe em quem vai votar para prefeito?”; a única resposta que tenho é um “ah, minha filha, não sei ainda não... Não me decidi”.
Mais uma vez, escuto essa frase que não quer calar na boca do povo dessa cidade.
As pessoas de Bauru estão indecisas, e seus olhos me dizem que estão um tanto quanto desanimadas para essas eleições. O engraçado é que não enxergo aquele entusiasmo tão colorido, eloqüente, cheio de sorrisos e certezas que se tem nas propagandas eleitorais. A trilha sonora não toca. O que ouço é apenas o barulho dos ônibus, o barulho da pressa dos transeuntes de chegar a algum lugar (ou a lugar nenhum). Às vezes, também, escuto um silêncio ou outro entre o meu “muito obrigada” e meu desânimo de não conseguir depoimento para o trabalho.
Mas não desisto, e continuo a buscar na cidade “do lanche” alguém que vá votar na ex-primeira dama que, olha só, é candidata à prefeita.
Ouço algumas frases que acho interessante destacar, tais como a afirmação de um rapaz bem vestido, trajado com seu ar de inteligência e de bom garoto “tem que ser na Izzo? Olha, querida, aqui em Bauru vai ser difícil você achar alguém que vá votar nela”.
Os olhos puxados do gerente do restaurante me dizem: “Você sabe o que o marido dela fez para Bauru? Já te contaram sobre a corrupção de dinheiro e o desvio de verbas no asfalto da cidade? É por causa do Izzo que a cidade está assim, com esse asfalto sem-vergonha”.
Já no supermercado, encontro (péssimo destino o meu) com aquele jornalista que arregala os olhos e a boca. Fala alto, de maneira revoltada com o meu pedido de depoimento: “onde já se viu, perguntar para um jornalista em quem ele vai votar? Falta de ética a sua, menina. Que professor é esse? Que trabalho é esse? Se fosse alguém do povo, tudo bem! Mas perguntar isso para um jornalista é demais!”. Tudo bem, ossos do ofício. Porém, confesso, não deixei de sentir meu sangue subindo à minha cabeça, quando percebi que todos os olhos e olhares daquele lugar se viraram para mim e para meu veterano um tanto quanto magoado. “Desculpe-me, senhor. Eu não sabia que era jornalista!”. Na verdade, naquele momento, queria xingá-lo e perguntá-lo se eu era obrigada a saber que ele era jornalista, já que não tinha nada escrito em sua testa.
Saindo daquele lugar, correndo, continuei a minha busca... Mas já era à noite, meu estômago reclamava, não queria mais saber de Izzo, nem de ninguém.
Dirigindo-me a minha casa, pensei, animada : “O porteiro! Quem sabe ele não votará em Rosa Izzo? Afinal de contas, muitas pessoas me disseram, durante essa minha saga de hoje, que o pessoal mais humilde vai votar nela, que ela é querida em bairros periféricos da cidade”. Mas, quando o indago, ele me diz que não sabe ainda em quem vai votar. E se for votar em alguém, que não seja em branco, vai ser no Caio Coube. Poxa! Dormirei sem nenhum depoimento hoje.
No outro dia, levantei mais animada, mais inspirada. Na hora do intervalo, me dirijo a alguns pintores simpáticos: “Ei, senhor, por favor, o senhor vota aqui em Bauru?”, interrogo meio tímida, mas isso logo passa, depois do sorriso e da resposta daquele meu mais novo amigo e salvador: “oi, meu amor. Sim! Você perguntou para a pessoa certa, na hora certa. Eu voto em Bauru e, esse ano, vou votar no cara certo, no Caio Coube. Chega de decepções, já me decepcionei com o Lula, com o Tuga e com o Izzo”. Apesar de tanta simpatia, ele entendeu a minha não satisfação em sua resposta. Expliquei a ele minha difícil missão. Ele, como sempre, sorriu, e me falou “mas menina! Que missão difícil que você pegou. Esse professor aí, não gosta de você não, hein?”. Uma simpatia só. Sem mais palavras. Mas, como as pessoas não aparecem na vida da gente por acaso, ele pegou em minhas mãos e as enlaçou nas suas, calejadas, e me levou até um lugar, apontando para frente e, sorrindo, disse: “olha, não conta que fui eu quem falou não, viu? Mas vai ali, ó! Pergunta ‘praquele’ gordinho que tá sentado ali e procura o Marcílio, ele vai votar na Rosa!”.
Agradecida, feliz e um pouco menos desanimada, eu fui. E que coisa! Três pessoas no refeitório dos funcionários da UNESP votarão na ex-primeira dama. Tímidos, humildes. O olhar do seu Antônio me dirige, olhos azuis, talvez de uma esperança e confiança muito maiores do que daqueles seus colegas que olham, curiosos. “Eu vou votar na Rosa porque o marido dela foi bom para Bauru. Dizem que ele roubou, não sei, mas ele foi bom”.
Depois, foi a vez de dona Anilza Araújo, faxineira da universidade. Foi ela, baixinha, tímida como ela só, que antes de tudo, antes de criar confiança em mim e no meu gravador, perguntou: “mas você não vai filmar não né? Nem tirar foto!”. Para a alegria e tranqüilidade de dona Anilza, não faria isso.
E como esse mundo é engraçado! Custei a tirar uma casquinha dela, mas, no fim, me surpreendeu com certa ideologia: “vou votar nela porque ela é mulher, vamos apoiar as mulheres, vê o que elas fazem porque os homens não estão fazendo nada, só roubando, veja o Tuga”.
Enquanto lavava as louças, Sandra Cristina Souza me respondia seus motivos. De vez em quando me olhava, mas não fechou a pia por nada. “Não sei né, eu acho que o marido dela fez alguma coisa por Bauru sim. E eu acho que ele pode ter se arrependido e, agora, com a mulher – ou é ex-mulher? – ele pode mostrar que se arrependeu, e assim, fazer alguma coisa por nós”.
De volta para a sala, agora bem mais feliz, penso em todos os personagens por mim encontrados. Todos nós esperamos as eleições e seus resultados. E que vença o melhor, ou então, que vença o mais convincente.
Mas, como diria “Chaveirinho” que não quis me ceder entrevista: “acho que Rosa não ganha não viu, porque não é fácil achar quem vota nela. Tá mais fácil você achar Rosa no canteiro!”.

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