quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ferréz é bom para os contos... (um pouco de LM!)

Capão que cansa mas não descansa

“Capão é um livro de mano para mano. É ácido e violento. É um grito.” (Ferréz)
Por Capão Redondo, Ferréz já perdeu a chance de ser empregado, a periferia nunca foi bem vista, mas ele nunca a deixou. A intenção era descrever suas experiências vividas em Capão Redondo, desde as tragédias até a questão da solidariedade dos moradores do bairro.
Ferréz escreveu um livro para representar a periferia como o rap o faz na música. Era necessário, portanto, preservar o vocabulário, as gírias, o jargão da periferia e a oralidade para facilitar a leitura aos marginalizados, público-alvo do livro.
A capa descreve um garoto com uma tarja nos olhos, uma arma na mão e a favela de plano de fundo. Esta imagem determina o estereotipo do morador da periferia: a idéia do tráfico – arma, da falta de identidade – a tarja, o garoto de vermelho – cor que somada ao ambiente favela, lembra violência..
O romance é escrito em terceira pessoa e apresenta Rael como personagem principal. Um cidadão honesto, trabalha numa padaria, não bebe nem se droga. Tem o grande sonho de ser escritor. A partir de uma relação amorosa proibida, a trama desenvolve-se com um destino que mira a tragédia: vingança, roubo, cadeia, morte.
Ferréz soube trabalhar a ambiência e o cotidiano, porém peca quanto à estrutura do romance. É uma história previsível que não estimula de certo o leitor, sua linguagem rebuscada de violência torna-se, por vezes, exacerbada e consideravelmente chula. Diferente do que faz em seus contos, pelos quais Ferréz atrai qualquer um que leia somente a primeira linha, o romance, talvez por ser extenso, torna-se cansativo.
Capão Pecado é um livro que não sugere intenção de atingir um centro político ou social, é feito pelo marginal e para o marginal. Ferréz buscou a escrita como intervenção social e crítica em relação à realidade de sua comunidade oprimida.

2 comentários:

Nathália Bottino disse...

O que seria do público marginalizado se não tivesse escritores como Ferréz, João Antônio, Plínio Marcos..?
Ótima resenha! ;)

Anônimo disse...

obrigada nathália bottino